14 de setembro de 2009

O telefone celular - Rubem Alves


Em Minas, antigamente, eram comum nas portas, à frente das casas, um buraquinho por onde passava um barbante. O barbante estava amarrado ao trinco. Bastava puxar o barbante do lado de fora para que a porta se abrisse. Assim, qualquer pessoa, a qualquer hora, podia entrar, sem precisar bater, e se não houvesse ninguém na casa, ir até a cozinha e tomar um cafezinho quente no fogão de lenha. Não conheço caso de que esse gesto de cortesia e confiança, o barbante pendente, tivesse sido desrespeitado. Imaginemos entretanto, em puro devaneio literário que, num dia qualquer, voltando para casa, o morador a encontrasse ocupada por todo tipo de pessoas ( haviam entrado puxando o barbante), umas amigas, sempre bem-vindas, mas a maioria desconhecidas, que enchiam as salas, os quartos, os corredores, os banheiros, a cozinha… Algumas, simpáticas, sorridentes, outras meio vadias, tinham entrado porque era fácil puxar o barbante…Pois foi precisamente essa a imagem que me veio ao ler o artigo justamente irado do Frei Beto, a propósito de uma invasão sofrida. Antigamente, quando era preciso escrever no papel, sobrescritar envelope, ir ao correio e colar selo, a trabalheira era muito grande. Por isso as cartas eram sempre sobre coisas importantes. Hoje quem não tem o que fazer faz uso da facilidade para ficar mandando e-mails. O frei Beto encontrou 137 e-mails à sua espera. Aí ele ficou muito bravo e fez uso da tecla delete para dar expressão ao seu sadismo…
Leia o texto completo aqui: http://www.ibbetania.com/2009/09/o-telefone-celular/

2 comentários:

  1. Excelente artigo. Assim como Rubem Alvez e apesar de usar ambos diariamente, ando com medo tanto do celular quanto do e-mail... Cada lugar tem o seu 'barbante'. Antigamente nas cidades nordestinas, mesmo capitais, tinha-se o hábito de ficar á tardinha nas cadeiras nas calçadas a conversar. Hoje nada disso se vê mais.



    "Tenho saudades do tempo, lá em Minas, do barbante pelo buraco na porta. Os visitantes eram sempre amigos e poucos. Hoje é perigoso deixar o barbante de fora. A gente termina por perder a casa. Tenho medo do e-mail. Tenho medo do celular."

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  2. É por isso que quero voltar pra Minas o quanto antes... fugir dessa loucura da cidade grande...
    Abraços.

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